Brasil a fora: Veja os percalços da Desportiva na 2ª divisão do Campeonato Paraibano 2012
A odisseia começa na viagem de 400km num ônibus velho até Itaporanga, no Sertão da Paraíba. Ao chegar, a falta d'água e um calor de quase 40º para entrar em campo pela segunda divisão do campeonato estadual começam a compor o panorama desolador.O estádio minúsculo não oferece a mínima estrutura exigida para uma partida profissional. Os jogadores trocam de roupa no chão, escutam a preleção do treinador num "cubículo" e fazem a última conversa num corredor escuro e num calor "quase insuportável". Na volta, nada melhor: o alojamento do clube, nas palavras do presidente Domingos Sávio, “mais parece um presídio”.
Esta é a jornada da Desportiva Guarabira,clube da segunda divisão paraibana,acompanhada pela reportagem do Globoesporte.com/PB durante três dias seguidos. Retrato de uma essência majoritária do futebol brasileiro sem fama e sem glória. E com desabafos surpreendentes. Como do presidente.Mais uma vez ele, Domingos Sávio.O dirigente confessa tirar tanto dinheiro do próprio bolso a ponto de pensar que está roubando a própria família.
Nada é animador. Fundada no ano de 2005,a Desportva Guarabira enfrenta hoje várias dificuldades para poder entrar em campo e tentar o retorno à elite do futebol estadual. O clube é formado por vários atletas com idade inferior aos 20 anos. A maioria vem de regiões próximas à cidade de Guarabira, no brejo paraibano.Eles tentam usar a Desportiva como trampolim para outras oportunidades no futebol.
A situação é realmente precária. O maior salário é do experiente Marconi. O zagueiro abriu mão de propostas melhores para tentar o acesso pela Desportiva, que já defendeu em outros momentos importantes de sua curta história. O jogador recebe R$ 2 mil. A grande maioria do elenco, contudo, ganha apenas um salário mínimo e ainda não desfruta de nenhuma mordomia proporcionada pelo
futebol.
- O ônibus da Desportiva Guarabira
A viagem para Itaporanga aconteceu em um ônibus fabricado em 1986, um dos únicos patrimônios do clube. A delegação deixou Guarabira por volta do meio-dia da terça-feira. Passou a noite no município de Piancó e só chegou à cidade-destino,palco do jogo, por volta das 13h da quarta-feira, a apenas duas horas do pontapé inicial. O elenco se hospedou num hotel que pouco tinha a oferecer em termos de conforto. Na chegada, se deparou com o problema de falta d'água (nada fora do comum para a população do sertão paraibano) em alguns dos quartos, fato que dificultou ainda mais a missão da Desportiva.
Resolvido o problema, jogadores, comissão técnica e dirigentes seguiram para o restaurante, dentro do próprio hotel. Refeição simples, sem requinte, muito menos orientação nutricional. Após o jantar, houve poucos minutos de conversas entre jogadores e outros integrantes. Antes das 22h, todos já estavam recolhidos pensando apenas no jogo do dia seguinte. Na quarta-feira pela manhã,depois do café, um breve momento de descontração: um jogo de baralho na varanda.Em seguida veio a preleção do técnico Geraldo Cirino, reservada apenas ao elenco.
- jogadores da Desportiva Guarabira se arruma no chão.
Com o objetivo já traçado, a Desportiva saiu no início da tarde para enfrentar os últimos 30km de viagem até o estádio José Barros Sobrinho (Zezão), em Itaporanga. A estrutura do palco de mais uma partida da 2ª divisão do Paraibano também se apresentava como um desafio para os atletas. Sem local apropriado dentro do vestiário, que não chegava nem a 10 m², os jogadores tinham que se sentar no chão para conseguir vestir e calçar o material de jogo. Antes de a partida começar, o técnico uniu o grupo para a última conversa antes da entrada em campo, exatamente às 15h. Mais uma vez a falta de espaço foi um problema. O papo final aconteceu num verdadeiro cubículo,sob calor quase insuportável.
- Preleção da Desportiva Guarabira em Itaporanga
Com temperatura que beirava a casa dos 40º, a Desportiva entrou em campo para enfrentar o time da casa, o Cruzeiro. Bem mais adaptada às condições climáticas, ( a Raposa do Vale fez valer o mando de campo e aplicou goleada de 4 a 0 ),Mesmo com todo esse sofrimento,jovens como o
meio-campista Caíque,de apenas 18 anos, acreditam que vale a pena jogar num time como a Desportiva Guarabira. Acham que, a qualquer momento, podem ser “descobertos” por algum olheiro.
- É quase impossível jogarmos 100% tendo que enfrentar um campo ruim e um clima tão quente como num jogo que começa às três da tarde. Teve um momento nessa partida em que eu tentava respirar e meu nariz doía. Chegou até a sangrar por conta do calor. Mas tenho esperança de conseguir uma chance num time maior. Quem sabe até participar de um campeonato importante e de grande nível – declarou o camisa 10 do time guarabirense.
- Conversa da Desportiva Guarabira antes de entrar em campo
Passada toda essa agonia, de cabeças baixas e decepcionados com o resultado ruim,os jogadores
foram entrando um a um no ônibus e se preparando para percorrer mais uma vez o longo caminho,agora de volta para casa. Apesar das músicas que tentavam quebrar o péssimo clima dentro do veículo,ninguém ali conseguia esconder o desânimo de não ter conquistado um resultado
melhor, depois de tanto esforço para entrar em campo.No entanto,o pensamento já tinha que ser direcionado para a outra partida.
- É muito difícil fazer futebol aqui na Paraíba. Amanhã, quando a gente chegar a Guarabira,terei de tirar do meu bolso mais de R$ 120 para comprar a carne para a alimentação dos atletas que moram no alojamento do clube.Às vezes sinto que estou roubando a minha família. Tiro recurso da minha casa para pagar as despesas do clube. E isso acontece quase toda
semana. Perco noites de sono pensando como resolver os problemas, mas a gente continua enfrentando os desafios porque não quer ver a cidade sem um representante no Campeonato
Paraibano – comentou o presidente da Desportiva, Domingos Sávio.
Estrutura precária também em Guarabira Ao chegar de volta a Guarabira, os problemas não
acabam. Dezoito dos jogadores do elenco do chamado Espantalho do Brejo moram no alojamento do clube. Na verdade, é um grande galpão repleto de beliches, com uma cozinha pequena e apenas dois banheiros.
- Nosso alojamento tem pouca diferença para um presídio: não passa de um grande vão. Tudo muito simples. É só o que a gente pode fazer -declarou o presidente da Desportiva.
As dificuldades do Guarabira são grandes principalmente porque o clube não conseguiu os apoios necessários. A diretoria imaginava que precisava de R$ 90 mil para participar da segunda divisão, e por isso começou a negociar “cotas de patrocínios” com os empresários locais. Não vendeu nenhuma. Arrecadou metade do planejado a partir de convênio firmado com a prefeitura local. Mas o dinheiro acabou bem antes do fim da competição. O drama, parece, não vai ter fim.
Foto:Silas Batista/Globoesporte.com/pb
Por: Silas Batista Campina Grande e Itaporanga
(Redação do Torcedor//Jaime Paraíba)
Esta é a jornada da Desportiva Guarabira,clube da segunda divisão paraibana,acompanhada pela reportagem do Globoesporte.com/PB durante três dias seguidos. Retrato de uma essência majoritária do futebol brasileiro sem fama e sem glória. E com desabafos surpreendentes. Como do presidente.Mais uma vez ele, Domingos Sávio.O dirigente confessa tirar tanto dinheiro do próprio bolso a ponto de pensar que está roubando a própria família.
Nada é animador. Fundada no ano de 2005,a Desportva Guarabira enfrenta hoje várias dificuldades para poder entrar em campo e tentar o retorno à elite do futebol estadual. O clube é formado por vários atletas com idade inferior aos 20 anos. A maioria vem de regiões próximas à cidade de Guarabira, no brejo paraibano.Eles tentam usar a Desportiva como trampolim para outras oportunidades no futebol.
A situação é realmente precária. O maior salário é do experiente Marconi. O zagueiro abriu mão de propostas melhores para tentar o acesso pela Desportiva, que já defendeu em outros momentos importantes de sua curta história. O jogador recebe R$ 2 mil. A grande maioria do elenco, contudo, ganha apenas um salário mínimo e ainda não desfruta de nenhuma mordomia proporcionada pelo
futebol.
- O ônibus da Desportiva Guarabira
A viagem para Itaporanga aconteceu em um ônibus fabricado em 1986, um dos únicos patrimônios do clube. A delegação deixou Guarabira por volta do meio-dia da terça-feira. Passou a noite no município de Piancó e só chegou à cidade-destino,palco do jogo, por volta das 13h da quarta-feira, a apenas duas horas do pontapé inicial. O elenco se hospedou num hotel que pouco tinha a oferecer em termos de conforto. Na chegada, se deparou com o problema de falta d'água (nada fora do comum para a população do sertão paraibano) em alguns dos quartos, fato que dificultou ainda mais a missão da Desportiva.
Resolvido o problema, jogadores, comissão técnica e dirigentes seguiram para o restaurante, dentro do próprio hotel. Refeição simples, sem requinte, muito menos orientação nutricional. Após o jantar, houve poucos minutos de conversas entre jogadores e outros integrantes. Antes das 22h, todos já estavam recolhidos pensando apenas no jogo do dia seguinte. Na quarta-feira pela manhã,depois do café, um breve momento de descontração: um jogo de baralho na varanda.Em seguida veio a preleção do técnico Geraldo Cirino, reservada apenas ao elenco.
- jogadores da Desportiva Guarabira se arruma no chão.
Com o objetivo já traçado, a Desportiva saiu no início da tarde para enfrentar os últimos 30km de viagem até o estádio José Barros Sobrinho (Zezão), em Itaporanga. A estrutura do palco de mais uma partida da 2ª divisão do Paraibano também se apresentava como um desafio para os atletas. Sem local apropriado dentro do vestiário, que não chegava nem a 10 m², os jogadores tinham que se sentar no chão para conseguir vestir e calçar o material de jogo. Antes de a partida começar, o técnico uniu o grupo para a última conversa antes da entrada em campo, exatamente às 15h. Mais uma vez a falta de espaço foi um problema. O papo final aconteceu num verdadeiro cubículo,sob calor quase insuportável.
- Preleção da Desportiva Guarabira em Itaporanga
Com temperatura que beirava a casa dos 40º, a Desportiva entrou em campo para enfrentar o time da casa, o Cruzeiro. Bem mais adaptada às condições climáticas, ( a Raposa do Vale fez valer o mando de campo e aplicou goleada de 4 a 0 ),Mesmo com todo esse sofrimento,jovens como o
meio-campista Caíque,de apenas 18 anos, acreditam que vale a pena jogar num time como a Desportiva Guarabira. Acham que, a qualquer momento, podem ser “descobertos” por algum olheiro.
- É quase impossível jogarmos 100% tendo que enfrentar um campo ruim e um clima tão quente como num jogo que começa às três da tarde. Teve um momento nessa partida em que eu tentava respirar e meu nariz doía. Chegou até a sangrar por conta do calor. Mas tenho esperança de conseguir uma chance num time maior. Quem sabe até participar de um campeonato importante e de grande nível – declarou o camisa 10 do time guarabirense.
- Conversa da Desportiva Guarabira antes de entrar em campo
Passada toda essa agonia, de cabeças baixas e decepcionados com o resultado ruim,os jogadores
foram entrando um a um no ônibus e se preparando para percorrer mais uma vez o longo caminho,agora de volta para casa. Apesar das músicas que tentavam quebrar o péssimo clima dentro do veículo,ninguém ali conseguia esconder o desânimo de não ter conquistado um resultado
melhor, depois de tanto esforço para entrar em campo.No entanto,o pensamento já tinha que ser direcionado para a outra partida.
- É muito difícil fazer futebol aqui na Paraíba. Amanhã, quando a gente chegar a Guarabira,terei de tirar do meu bolso mais de R$ 120 para comprar a carne para a alimentação dos atletas que moram no alojamento do clube.Às vezes sinto que estou roubando a minha família. Tiro recurso da minha casa para pagar as despesas do clube. E isso acontece quase toda
semana. Perco noites de sono pensando como resolver os problemas, mas a gente continua enfrentando os desafios porque não quer ver a cidade sem um representante no Campeonato
Paraibano – comentou o presidente da Desportiva, Domingos Sávio.
Estrutura precária também em Guarabira Ao chegar de volta a Guarabira, os problemas não
acabam. Dezoito dos jogadores do elenco do chamado Espantalho do Brejo moram no alojamento do clube. Na verdade, é um grande galpão repleto de beliches, com uma cozinha pequena e apenas dois banheiros.
- Nosso alojamento tem pouca diferença para um presídio: não passa de um grande vão. Tudo muito simples. É só o que a gente pode fazer -declarou o presidente da Desportiva.
As dificuldades do Guarabira são grandes principalmente porque o clube não conseguiu os apoios necessários. A diretoria imaginava que precisava de R$ 90 mil para participar da segunda divisão, e por isso começou a negociar “cotas de patrocínios” com os empresários locais. Não vendeu nenhuma. Arrecadou metade do planejado a partir de convênio firmado com a prefeitura local. Mas o dinheiro acabou bem antes do fim da competição. O drama, parece, não vai ter fim.
Foto:Silas Batista/Globoesporte.com/pb
Por: Silas Batista Campina Grande e Itaporanga
(Redação do Torcedor//Jaime Paraíba)
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